09/06/2007

INSTANTES

QUE FAZER?

Para onde partiram os amigos, os amantes, os abraços de carinho, os risos?
Para onde foram os sonhos, todas as promessas depositadas no nosso colo quando éramos tão inocentes, as esperanças adoçadas nos anos verdes pelas histórias mágicas dos príncipes encantados do “para sempre felizes”? Onde ficaram as noites mágicas de palavras sussurradas ao ouvido, com um céu estrelado e o algodão doce da feira, as rifas, as farturas que lambuzavam os dedos e derretiam o coração? Por que caminhos ínvios, negros e dispersos nos perdemos todos, como se hoje estivéssemos aqui numa terra desconhecida, rodeados de gente desconhecida, sem raízes, sem memórias?
As esperanças rasgadas e deitadas ao vento e o vento leva as palavras para terras onde ninguém as entende e, por isso, estamos rodeados deste silêncio ensurdecedor.
Percorremos os dias repetindo os gestos, mas, quando deitamos a cabeça na almofada, a dor no corpo tolhe-nos, a solidão tem cheiro e peso e nada nos vale, nem quando outro corpo dorme a nosso lado.
Que fazer com o resto dos dias, com o resto das ilusões manchadas de rugas, de desilusões, da longínqua recordação do que um dia foi?
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(Luísa Castel-Branco, apresentadora de televisão e escritora)
Fotografia de Pé de Salsa